Avanço na Johns Hopkins University sinaliza nova era para procedimentos cirúrgicos, mas levanta debates éticos e operacionais. Foto: divulgação

Robô realiza primeira cirurgia autônoma em tecido humano

Um robô cirúrgico equipado com inteligência artificial completou a primeira operação totalmente autônoma em tecido humano. O evento histórico ocorreu na Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, onde a máquina removeu uma vesícula biliar, em um procedimento conhecido como colecistectomia.

O feito foi alcançado após o robô, que utiliza a tecnologia SRT-H, baseada na arquitetura de aprendizado de máquina do ChatGPT, ter assistido e aprendido com vídeos de cirurgiões humanos. O objetivo principal deste desenvolvimento é alcançar maior precisão, otimizar o tempo operatório e democratizar o acesso a técnicas cirúrgicas complexas em escala global.

Cirurgiões a caminho da obsolescência?

Júlio César Silva, médico e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP, aponta os benefícios dessa inovação: “Primeiro, a precisão com que o robô pode realizar o procedimento. Segundo, a otimização do tempo cirúrgico com segurança e velocidade, principalmente em cirurgias de baixa complexidade. E terceiro, a democratização”.

Segundo ele, a acessibilidade global será alcançada quando a tecnologia se tornar mais econômica, permitindo a execução de procedimentos complexos em locais com recursos limitados. Embora a cirurgia robótica convencional ainda tenha custos elevados que restringem seu acesso em muitos países, a introdução de novos equipamentos e instrumentos no mercado já contribui para a minimização desses valores.

Apesar do progresso, a tecnologia enfrenta limitações. Falhas de hardware e software podem ocorrer durante a cirurgia, comprometendo o resultado. Essa possibilidade levanta importantes questões éticas sobre a responsabilidade. Silva questiona: “Se o robô cometer algum erro durante um procedimento, quem seria responsabilizado? O cirurgião, o fabricante do equipamento, o hospital que o adquiriu? Essa é uma questão ética que ainda precisa ser muito bem discutida pelas entidades de controle, para definir como agir em casos de complicações ou falhas do sistema”.

Embora os robôs minimizem fatores humanos como estresse, cansaço e tremores, eles ainda não percebem sensações táteis e térmicas. No entanto, especialistas preveem que, futuramente, robôs poderão superar a eficiência de cirurgiões tradicionais em muitos aspectos.

O papel do cirurgião no futuro

Este avanço sucede um experimento de 2022, quando o robô Star realizou uma cirurgia autônoma em um porco vivo, embora em condições controladas e com tecido previamente marcado. A tecnologia atual, SRT-H, demonstra capacidade de interpretar situações, tomar decisões e adaptar-se em tempo real, inclusive respondendo a comandos de voz da equipe médica. A expectativa é que testes em pacientes vivos ocorram na próxima década.

Mesmo com a evolução da cirurgia robótica, o papel do cirurgião permanece indispensável. A experiência e o julgamento clínico do médico são vitais para decisões em tempo real e para lidar com situações imprevistas.

O professor enfatiza que o cirurgião manterá uma função central: “Ele vai continuar sendo importante e essencial no procedimento, na indicação da cirurgia, na resolução de eventuais complicações, no ato cirúrgico controlando o robô por voz, e indicando os melhores procedimentos e as melhores técnicas a serem realizadas. Além de ser o cirurgião que vai treinar e adequar o computador aos diferentes procedimentos cirúrgicos mesmo pré-operatoriamente”.

A tecnologia é vista como um complemento, não uma substituição, do profissional médico a curto e médio prazo.

Rede Brasil Inovador

Aldo Cargnelutti é editor na Rede Brasil Inovador. Estamos promovendo os ecossistemas de inovação, impulsionando negócios e acelerando o crescimento econômico. Participe!

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