Mauro Belo e Ana Stobbe
A entrega do 29ª edição do Prêmio O Futuro da Terra, uma das principais distinções científicas e ambientais do Rio Grande do Sul, foi realizada na noite desta segunda-feira, 1º de setembro, no auditório da Casa da Farsul na Expointer. Criada e realizada pelo Jornal do Comércio em parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapergs), a honraria tem como missão reconhecer iniciativas e trajetórias que unem inovação tecnológica, desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental no setor primário.
“O desenvolvimento da pesquisa foi determinante para transformar o agronegócio brasileiro em um dos mais competitivos do mundo. Por isso, nós, do Jornal do Comércio, realizamos anualmente, durante a Expointer, este evento que reconhece homens e mulheres, pesquisadores e técnicos que trabalham para manter e expandir as cadeias produtivas do campo”, disse o diretor-presidente do JC, Giovanni Jarros Tumelero, em seu discurso de abertura.
Ele ainda ressaltou a importância do equilíbrio entre desenvolvimento e preservação ambiental. “É essencial lembrar que todo esse avanço deve caminhar lado a lado com o respeito ao meio ambiente. Assim, muitos dos trabalhos reconhecidos também são voltados à preservação dos recursos naturais, com foco na conservação do solo e da água”, pontuou Tumelero.
O diretor-presidente da Fapergs, Odir Dellagostin, ressaltou a importância de destacar os profissionais. “É um momento que a gente consegue reconhecer quem realmente está lá trabalhando na bancada, no campo, na sua linha de frente, produzindo conhecimento, gerando tecnologias e contribuindo para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Estado e, consequentemente, do País”, justificou.
Anfitrião do evento, o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, celebrou a operação plena da Expointer em 2025. Ele relembrou que a feira, considerada a maior do setor agropecuário a céu aberto da América Latina, foi afetada pela enchente no ano passado. Embora o evento tenha sido realizado, a inatividade do Trensurb e do Aeroporto Internacional Salgado Filho afetaram o deslocamento do público ao Parque de Exposições Assis Brasil, localizado em Esteio.
Além da enchente, ele relembrou as sucessivas estiagens que afetaram o Estado nos anos 2020 e que geraram perdas bilionárias no agronegócio gaúcho, retraindo a participação gaúcha no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. “Talvez o agricultor gaúcho nunca necessitou de tanta ciência como agora. Os maiores problemas estão no Rio Grande do Sul, esse é o epicentro da crise”, salientou, reafirmando a importância do prêmio O Futuro da Terra.
Na mesma linha, o vice-governador do Estado, Gabriel Souza (MDB), tocou em um tópico sensível: a discussão sobre a renegociação das dívidas rurais pela securitização, que tem levado produtores gaúchos a pressionarem o Planalto. Devido à urgência do tema, ele criticou a ausência de representante4s do alto escalão do governo federal na Expointer.
“De fato, estamos na expectativa de que nesta semana alguém do governo federal apareça aqui na feira, alguém de alto escalão, provavelmente que seja um ministro de Estado e que venha, primeiramente, prestigiar o produtor gaúcho. Não tivemos a presença, infelizmente, na Expodireto deste ano, e nota-se a ausência, seguidamente, de representantes do governo federal no tocante ao setor primário nos maiores eventos do Estado, que é um dos maiores produtores de grãos do País”, desabafou Gabriel.
O tema das mudanças climáticas também esteve em voga na fala do presidente da Assembleia Legislativa, Pepe Vargas (PT). “Como a história nunca é só para frente, a gente tem momentos históricos que são desafiadores e nos trazem, às vezes, até retrocessos econômicos. E vivemos, de fato, um momento extremamente desafiador, porque nos últimos anos não temos uma normalidade climática. Ou temos falta ou excesso de chuvas. Vamos precisar do apoio da ciência e da pesquisa para fazer frente a essa questão”, destacou o líder do legislativo gaúcho.
A visão foi compartilhada com o reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Luciano Schuch. Destacando a agenda de inovação da instituição de ensino, ele ressaltou o papel dos pesquisadores para a mitigação de eventos climáticos extremos no campo.
“Nossas universidades vêm pesquisando e trabalhando com as regiões do Rio Grande do Sul há muitos anos. Então, temos dados consolidados e projetos de inovação prontos para contribuir. Eventos como esse (a premiação) conseguem dar luz a isso. Cada vez mais, precisamos pegar a ciência gerada na Universidade através dos nossos pesquisadores e colocar à disposição da sociedade”, pontuou Schuch em entrevista à reportagem.
Os prefeitos de Esteio e de Porto Alegre, por sua vez, destacaram o papel de grandes eventos como a Expointer e o Acampamento Farroupilha para os municípios comandados por eles. Entre os principais pontos abordados, estava a contribuição deles para as comunidades locais.
No caso de Felipe Costella (MDB), chefe do Executivo de Esteio, cidade que sedia o Parque de Exposições Assis Brasil, ele destacou a estratégia do município de impulsionar a inovação dentro da feira e a relevância do evento para a cidade. “Nós recebemos a maior feira do agro da América Latina dentro da menor cidade do Rio Grande do Sul (em extensão territorial). Todo o mundo vem para cá neste momento. É algo muito significativo”, celebrou.
Já o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), comentou em entrevista à reportagem a importância de unir o campo e a cidade, o que é realizado, de acordo com ele, tanto na Expointer quanto no Acampamento Farroupilha, que iniciou na capital gaúcha nesta semana. “Essa mistura vai muito bem, envolvendo culinária, indumentária e vivência. Imagina quantas crianças vêm conhecer um animal aqui? É um negócio muito legal”, pontuou.
Nesta edição do prêmio O Futuro da Terrav, foram 13 agraciados, distribuídos em cinco categorias: Cadeia de Produção e Alternativas Agrícolas, Inovação e Tecnologia Rural, Preservação Ambiental, Startup do Agronegócio e o Prêmio Especial, dedicado a um pesquisador cuja trajetória de excelência se destaca no campo. Os vencedores são escolhidos por um colegiado formado por integrantes do Comitê de Assessoramento Científico e Tecnológico da Área de Ciências Agrárias da Fapergs, que avalia projetos e currículos com base em mérito científico e impacto social.
O reconhecimento é conferido tanto a pesquisadores quanto a empreendedores, instituições e startups que contribuem para um setor agropecuário mais moderno, competitivo e sustentável. Antes da cerimônia, houve um coquetel na Casa JC em que os premiados confraternizaram e trocaram informações sobre seus estudos.
Também marcaram presença na premiação os secretários estaduais de Agricultura, Edivilson Brum, Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, e Inovação, Simone Stülp.
Confira a lista dos agraciados de 2025:
Cadeia de Produção e Alternativas Agrícolas
Cláudio Wageck Canal (Ufrgs)
Jorge Alberto Vieira Costa (Furg)
Volmir Sergio Marchioro (UFSM/Frederico Westphalen)
Wilson Francisco Britto Wasielesky Jr. (Furg)
Inovação e Tecnologia Rural
Juliano Smanioto Barin (UFSM)
Marcia Maria Auxiliadora Naschenveng Pinheiro Margis (Ufrgs)
Maurício Oliveira (UFPel)
Preservação ambiental
Fabricio Jaques Sutili (UFSM)
Helen Treichel (UFFS)
Luiz Antonio de Almeida Pinto (Furg)
Startup inovadora
Crops Team (UFSM)
ProspectaBio (Tecnopuc)
Prêmio especial
José Miguel Reichert – UFSM
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